De repente, os sonhos e as expectativas de sempre estão aqui à minha frente. Intactos. Inalterados. Completamente iguais ao que eram antes de os trancar numa gaveta. Mas, agora, o que é que faço com eles?
Quando acordou, era o Pacotes: verme de existência, pessonhento, vil e desgarrado. Ou agarrado. Agarrado a tudo o que se quer de mau a correr pelas veias. De olhos abertos ou fechados, não havia poesia nos momentos que se atropelavam à sua frente. Tudo era prosa. Palavra dura. Crua. Genial por ser tão despida. Pedaços de quem respira já quase somente porque sim. A voz calma e serena, polida pelo tabaco que é sempre tão pouco dentro do maço, desenha as histórias relutantes. Não há espaço para decoro. Aqui há droga, e sexo, e maldade. Não importa. Aqui o calão soa a erudito. E tudo, tudo é uma ode ao que é feio. Ao que não merece versos, mas continua a ser verdade. Porque o pó fica sempre em cima dos móveis, à espera que alguém o limpe. Em cima de nós, à espera de sermos lavados com algodão e água oxigenada. O algodão não engana e pode ser descarregado aqui.
"Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?