As luzes de natal estão sempre nos mesmos sítios, à espera do cheiro das castanhas assadas, e o frio aperta no meio do Rossio. Os turistas vivem como eu, atabalhoados entre tentativas de entendimento com o senhor do café. Querem um pastel de nata. Eu quero uma bola de Berlim, com creme. Lá fora, anda tudo de sacos na mão, aos tropeções, para chegarem ao metro mais depressa (que não deve haver outro que venha a seguir, parece). Na estação, estão três encostados à parede. Pedem esmola, como quem pede um copo de água, mas as moedas nunca caem na lata. Ouve-se um acordeão e a voz de uma velhota que se deixou perder no tempo. Há sempre um certo tom de "portuguesice" que nunca consigo alcançar. Nas palavras, que são tantas e tão poucas, procuro a poesia e aquele pedaço de fado que ainda ninguém soube cantar. Do que é português, só resiste a língua em que falo, que até o alcatrão prefiro às pedras da calçada.
Descemos as escadas rolantes para que não te canses mais do que é preciso. Que a unidade do teu ser é desconstruída à medida que sobes ou desces desnecessariamente. Ficas no degrau por cima do meu, para que me consigas beijar sem te esticares demasiado. E eu permaneço quieto, a olhar à minha volta, como se nada fosse, simplesmente à espera que isso aconteça.
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