Embrulhou o cd no casaco por causa da chuva. Mas o problema nem era a música, era a colecção de letras de canções que tinha empacotado para lhe dar. Eram as canções do amor que não tinha chegado para mais. Escolhidas a dedo, com as partes importantes sublinhadas a marcador, para que ele não tivesse problemas a interpretar o que ouvia. No final de tudo, o amor resumia-se a isso - poesia, batida, melodia. Tudo junto, gravado em formato físico para que, ao menos, pudesse sobreviver às incompatibilidades tecnológicas que às vezes o mp3 traz.
Quando chegou ao portão dele, tocou à campainha e pousou o que trazia no chão. Tinha parado de chover, mas o chão continuava molhado, e uma prenda assim não é coisa que se queira ver encharcada. Correu para a esquina, antes que alguém da casa a visse, e ficou a espreitar lá do fundo. Quando ele abriu a porta, o seu mundo tremeu outra vez. Escondeu-se quando ele tentou ver se havia alguém na rua. Conseguiu. Ele pegou em tudo e entrou em casa. Aquilo era o testamento da relação que não tinha resultado. Mesmo depois de estar tudo morto e enterrado, a cada coisa o seu devido lugar. E o de cada um iria ser sempre especial. Por isso, não teve dúvidas de quem o tinha deixado lá. No caderno cheio de palavras por entregar e embrulhar, a primeira página dizia só: "Mixtape Do Amor Que Não Chegou". Era verdade. Pelo menos o dele não tinha chegado.
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