Foram mais de 700 dias de ti. Na altura, a viragem das duas décadas acenava a um sucesso com mais olhos que barriga. Ninguém nos tinha avisado que seria o maior desafio dos nossos dias. Nunca chegámos a chorar juntos, mas também nunca foi preciso. No meio de todo o desespero que se instalou na nossa segunda primavera, manteve-se sempre intacta a recordação daquele abraço. Tinha perdido o último comboio da noite e não tinha maneira de voltar para casa. Limpaste-me as lágrimas com o teu casaco e tomaste conta de mim nessa noite. Foste buscar-me à estação e levaste-me a passear pelo Bairro Alto, para que a angústia de estar abandonada em Lisboa não pesasse tanto. E assim ficámos até hoje. Ensinaste-me a gostar de novas palavras e aprendi milhares de universos no meio de cada sorriso e discussão. Pelo caminho quase perdemos os ursos polares, as mensagens a meio da noite e tropeções fortuitos entre a capital e os seus arredores. Mas salvou-se o mais importante: aquele abraço com mais de dois anos trouxe-nos até aqui. E manteve-se intacto. Obrigada.
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