Voltei a sonhar contigo esta noite. E, quando acordei, lembrei-me de tudo o que ficou por dizer. De todos os textos engavetados e dos sorrisos que ficaram retidos na alfândega. Revi todas as promessas que nunca incluíam o verbo prometer, antes de esfregar os olhos, para que ainda fosse tudo desfocado. Nos entretantos que foram ficando pelo caminho, deixou de existir o pronome pessoal da primeira pessoa do plural. Voltou tudo a ser singular, como o IRS, e o chão ficou cheio de impressos por preencher. Acho que nos perdemos na burocracia do nosso amor. E agora, mesmo de óculos já postos, o futuro é só reticências e pontos de interrogação.
"Não quero nem saber o que trazes vestido
podes nem vir a condizer,
podes nem vir a condizer,
que eu ligo bem contigo...
Quero ficar sentado a ver-te rir,
sem nada marcado,
nem pressa p'ra fugir...
Quando eu digo que gosto de ti, é pouco!
Quando eu digo que és bonita,
tu dizes que eu sou louco...
Não foi o mundo que enlouqueceu, o que tu queres sou eu...
Diz-me qualquer coisa ao ouvido:
que estás apaixonada e que queres ficar comigo!..
Eu quero ver-te sem ter motivo,
p'ra simplesmente dizer que quero estar contigo...
Canta-me uma canção qualquer
p'ra dançarmos os dois...
E o que vem depois
E o que vem depois
é de cada um..."
João Só e Os Abandonados - Canção de Isqueiro
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