Sentou-se a olhar para as paredes vestidas de papel de lustro e cartolina ao lado dela, só porque ela gostava de ficar ali, especada, a olhar para as cores garridas. E conversaram sobre um mundo inteiro de coisas sobre as quais nunca tinham trocado qualquer tipo de som. As mãos mantiveram-se agarradas uma à outra, por entre as brincadeiras dos dedos.
Decidiram subir a rua a pé, como se os quilómetros de estrada fossem milímetros debaixo dos seus pés. Pelo caminho, ficou a vontade de comer um gelado. “É de chocolate, por favor.” Moedas em cima do balcão, colher de plástico dentro do copo. Ela escolhe a mesa do fundo, ao pé da janela, para conseguir ver o que continua do lado de lá do vidro, mesmo que a rua esteja em obras. “Toma.”
“Obrigada.” Sorriu. “Ainda bem que pediste de chocolate, que eu não gosto do de caramelo.” Tão ingénua!... Tão ingénua que não acreditava na doçura da partilha premeditada de um gelado. E ficou assim, feita criança derretida no meio da gulodice, a olhar alternadamente para ele e para o gelado, até ter a certeza do que já sabia de cor.
Naqueles dias, os sonhos pareciam realmente mais perto. E, de repente, ter um cão não lhe parecia descabido. Quem sabe dois ou três. A quantidade suficiente de bichos para que ele fosse feliz.
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