E foi ali que se apercebeu que só
notava que os dias passavam por ver sistematicamente a data nos pontinhos
vermelhos do calendário LED do comboio suburbano. Dia 2 de Abril. Dois do
quatro de um ano qualquer. Pouco importava. O que importava era que, afinal,
até gostava da viagem e do conforto que os 45 minutos de caminho até Lisboa lhe
davam. Quando chegava, já estava acordada à séria. Sem ramelas ou vontade de
dormir. Não gostava do tempo perdido, mas gostava de pôr o pé na grande cidade sabendo
que naquele dia já tinha passado por outra, e que as manhãs começavam sempre
numa vila onde tudo sabe a campo.
Também gostava dos barcos,
baptizados com nomes de poetas, alinhados no terminal do Barreiro. Fernando
Pessoa, Fernando Namora, Antero de Quental, Jorge de Sena, Damião de Góis. Como
se a viagem que separa o Sul do Norte pudesse ser um novo poema a cada dia.
Como se a Soflusa fosse igual ao Metro de Nova Iorque e patrocinasse as
conquistas de cada existência suburbana com um bilhete de ida e volta.
Fotografia licenciada em Creative Commons por jakub303 |
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