Tinha sido ele a notar que estava tudo como sempre tinha sido, que o tempo passava e que os sonhos se mantinham intactos e por realizar. Já não era altura de sonhar. Eram adultos: era a altura de realizarem os sonhos, um por um, como se não houvesse mais nada a fazer. Queria amar a mulher que os tinha desenhado ao seu lado, mas a sua doçura estava transformada em simpatia e isso não chegava para montar sonhos de uma vida inteira.
Por isso, nesse dia, disse-lhe que precisava que ela voltasse. Que precisava dela, ponto. Que não a conseguia encontrar por detrás do seu sorriso e que já nada fazia sentido assim. Ela respondeu, por entre fios de arrogância, que estava igual ao que sempre fora. O medo de lhe faltar era tanto que a teimosia se dissolveu no pouco que ainda sobrava para dizer – tinha de ter razão, como em todas as outras ocasiões, que o importante era que ele visse que ainda ali estava, como sempre estivera, mesmo que ele não visse. O problema nunca poderia ser ela, não fosse haver o risco de ele deixar de gostar de si por toda a sua imperfeição. Mas, desta vez, o problema era dos dois, só que ela insistia em manter os olhos fechados.
1 comentário:
que nem uma luva.
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