Nos entretantos, aqui o cantinho já ultrapassou a marca dos dois anos. Melhor ou pior, foi algo que tentei estimar e manter com algum carinho, mesmo quando não me apeteceu. Houve meses em que isto serviu de montra pessoal, para colmatar a distância a que estava do meu próprio mundo; na maioria das vezes, serviu apenas para colar alguns textos e meia dúzia de desabafos. Mas a decisão de abrir o estaminé veio numa altura boa, em que passei a escrever quando estava feliz, e não para exorcizar o que me ficava por dizer. (Usar bem as palavras no papel nunca foi sinónimo de as usar bem com a voz.) Era a primeira vez que me acontecia isso. E fazia sentido.
Dois anos, um mês e dez dias depois do início, a retrospectiva é inevitável. Muitas das certezas que fui construindo ficaram pelo caminho, mas outras mantiveram-se. Tropecei muitas vezes nos meus próprios erros, mas dediquei-me de coração a (quase) tudo o que me propus. E agora que há dias em que o sorriso custa a nascer, aparece sempre alguém que ainda o sabe desenhar na minha cara. Os alicerces de outros tempos mantêm-se intactos, mesmo que parte do meu universo tenha desabado. Mas, ao ducentésimo post, parece que já existe a consciência de que há aqui um retrato da minha pessoa. Incompleto, sim. Mas, como alguém me disse um dia, somos as narrativas que construímos - seja de nós para os outros, ou mesmo de nós para nós. O que importa é a história que imprimimos na vida de quem está ao nosso lado. E a maneira como o fazemos, claro. Há gostos para tudo: os que lêem só um capítulo (ou nem isso), os que lêem o livro apenas uma vez para depois o arrumarem na prateleira como prova do esforço heróico que fizeram para chegar ao fim, e os que guardam o livro em cima da mesa de cabeceira para que o possam ler sempre que quiserem. Os finais felizes, esses, dependem unicamente de quem nos interpreta.
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