domingo, 30 de dezembro de 2012

#24

Tenho lido muita banda desenhada. O que significa que tenho lido muito. Ou, não sendo muito, tenho lido mais do que os últimos anos me têm deixado. É certo que a tecnologia ajudou, mas não fosse a derradeira força das palavras (e das imagens) e não estaria tão aconchegada esta noite. O hip-hop também tem tomado bem conta de mim. Parece que encontro de mim nos versos alheios aquilo que sei de cor mas não conheço. Ando sempre a nadar fora de pé. O sossego chega com o conforto de saber que não estou sozinha. É por isso que gosto de ler: porque aquece e arrefece o que está cá dentro, qual microondas de sensações. Quando abraçamos a língua com delicadeza, ela devolve-nos esse amor nas mesmas proporções. Na incerteza com que o mundo palpável nos brinda, salvam-nos as frases vagarosamente depuradas e as imagens feitas filosofia. Sim, as personagens dos livros são os retalhos das vidas em que tropeçámos algures. Nos quadradinhos deste álbum, os balões atafulham-se com letras manuscritas. Cada um com a sua tipografia, como se os ângulos de um símbolo definissem um pouco mais daquilo que somos. Ou do que fomos. Todos os dias, de capa ao pescoço. Heróis de narrativas que nunca vão ser deslindadas por outras pessoas. A conquistar identidades entre ser sujeito e qualquer predicado da existência.

in "Asterios Polyp" de David Mazzucchelli

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