segunda-feira, 27 de outubro de 2008

[radiozero > Telex] 27 de Outubro: 3ª feira

Do carvão, que é mole, resta somente o lápis que o segura. O que está do lado de dentro raramente interessa. Na verdade, nem o que interessa é relevante. As lanternas que segurámos enquanto subíamos as escadas podem ficar esquecidas onde bem entenderes, que nada mudará por já não haver luz no nosso caminho. Ou deverei dizer pilhas? Desculpa, não me lembrei de trazer mais. Nada que não seja normal... No túnel, o pior que pode acontecer é batermos com a cabeça no tijolo. Possivelmente, nem sequer isso, que os cadernos não se escrevem por si só e as canetas não nascem penduradas sobre uma folha de papel.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Parabéns Diana! xD

Tens noção que esta era a única fotografia que tinha tua em que estavas sozinha?! (sim, sim, eu sei que me vais matar, quando voltares a Lisboa... ah ah ah) Oremos, irmãos:

Parabéns a você, nesta data querida
muitas felicidades, muitos anos de vida, 
Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas
para a menina DIANA... 
uma salvda de palmas!!!

Adoro-te, mesmo quando me abandonas e vais morar para Barcelona!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Já não há poetas...

Quando te percebi, só restava a caneca de leite em cima da mesa e o poema do Almada Negreiros que nunca te soube mostrar. O livro tinha ficado perdido algures entre os lençóis e a cabeceira. Enquanto as colunas gritavam uma música qualquer vestida de jazz e cultura, explicavas-me que a poesia era a principal fonte de poluição neste planeta. A poesia não é ecológica! O que se diz em trinta linhas de versos, escreve-se em menos de dez de prosa. E por se querer dizer tanto em tão pouco espaço, não se percebe nada. E bates com os dedos sobre o tampo, um de cada vez, num compasso embalado pela melodia, à espera que te respondesse. Ainda bem que estás sentado, que a vontade de te assombrar as doutrinas não é muita por estes lados. O problema não é a quantidade de papel que fica em branco, mas o desperdício de humanidade que se entranhou nas palavras que se escrevem ou ficam por escrever.

Já não há poetas.

Já não há poetas...

Já não há poetas, meu querido, pelo que os sonhos já não são senão meros recortes de existências paralelas e virtuais. A poesia entrou em coma. Em contrapartida, os poemas amontoam-se pelos jardins e edifícios do urbano, como se fossem parte daquela estrutura de acrílico e betão. Vê se me entendes, que eu não duro mais que uma vida: a poesia está a morrer com uma overdose de poemas. É que a forma não traz consigo a plenitude e o belo, e isso não se vê na caixa, que é de cartão, não é de plástico transparente...

E as instruções não vêm do lado de fora.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

[radiozero > Telex] 20 de Outubro: Mudança

Antes das coisas estão os conceitos. Que é como quem diz que, antes do bolo estar feito, é preciso alguém que saiba ler a receita e cozinhar. Não vale a pena misturarmos açúcar, ovos e farinha se não soubermos em que altura o devemos fazer, e em que quantidades.  Queremos um bolo consistente e não demasiado doce. E cuidado, para que não se queime! A verdade é que tudo se encaixa à nossa volta. Não há movimento aleatório que não transporte  consigo um pedaço demasiado grande de caos. A realidade é um puzzle que tem de ser montado de acordo com a imagem da caixa, senão vão sobrar peças. O que tem piada é saber que as peças vão mudando com os tempos e que o que é perfeito hoje pode não fazer sentido amanhã. Que hoje apetece-me um pastel de nata, e amanhã um bolo de chocolate.


Mudança
s.f., acto ou efeito de mudar, modificação, alteração, desvio, mutação.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Hoje #3

Hoje li que "un 37% de las mujeres dicen sufrir de molestias severas durante la regla", que é como quem diz que "37% das mulheres dizem sentir muitos incómodos durante o período", e achei que qualquer ser humano do sexo feminino que não faça parte desses 37% não merece ser chamado de Mulher. 


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Hoje #2

Hoje percebi que não escrevo nada de tamanho considerável há já algum tempo. Os parágrafos já não se amontoam no meu caderno. Na verdade, vivem espaçosamente, cada um no seu duplex, que é para não haver confusões - "Esta linha é minha, sim? - Não é nada! Acabaste na anterior!"

Nos entretantos, levantei-me ao meio-dia para ir a uma aula às duas, que não tive por alguma razão obscura (ou talvez nem tanto, porque não li a folhinha que a nobre professora fez o favor de pendurar na porta). Fui jogar à Sueca Italiana (não percebo esta dupla nacionalidade... será que envolveu alguma ménage?) e, quando dei por mim, estava a brincar com um MacBook Pro na Fnac do Chiado. Decididamente, devia fazer alguma coisa de útil na vida...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A fingir...

Há uma certa polifonia em ti. Uma frase que ainda não sei ler, toda ela poesia, toda ela qualquer coisa que nunca consegui deslindar. Gostava de poder encostar a cabeça no teu ombro e fingir que está tudo bem, que nunca nos conhecemos, por isso nunca nos amámos. Que tal? A fingir que sempre vivemos de olhos fechados e nunca tropeçámos nos pés um do outro. A fingir que não me ensinaste coisa alguma a não ser existir no escuro, de mãos dadas para que não me perdesse na multidão. Por exemplo. Também podíamos fingir outras coisas que agora não me lembro, mas não interessam para o caso.

Tenho o coração dormente de ser sempre tudo tão desfocado à tua volta.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Escrevo-te

Há sombras que moram nas paredes do meu quarto. Recortes e desenhos imprecisos de coisas que nunca soube. Quando a janela se abre, o frio entra e começo a tossir. É melhor ir buscar uma manta para me tapar. Vou. Nestas noites de gelo e solidão, a companhia dos tecidos reconforta a alma. Mas que alma? Não sei se acredito nisso. Metafísicas decadentes de quem não sabe em que acreditar para além da vida. Fico-me como o outro: "Há metafísica bastante em não pensar em nada". Deixo-me estar sem pensar. Não penso em nada que não apreenda com os sentidos - o que me faz sentir, portanto. O resto é tudo mentira. Não há Deus, não há metafísica, não há alma. Há apenas o Homem: matéria, biologia e sociedade. Isso e a televisão despenteada que nunca pára de gritar, mesmo que seja baixinho. E eu, que estou tão velha, já não tenho paciência para meios de comunicação. Perdão, já não tenho paciência para comunicação - ponto. Tudo se atrofia à minha volta, enquanto abro a mão direita e pego numa caneta. Gostava de te escrever uma carta, mas as palavras estão todas cansadas. Dormentes como eu. Está tudo doente do pó e do barulho e da cidade. Está tudo doente dos prédios que se amontoam neste miserável pedaço de terra. O verde da relva não respira por estas bandas, porque simplesmente não há relva. Nem árvores. Nem flores. Nem ecopontos. A única coisa que se recicla aqui são os sonhos - migalha inexplicável de (in)consciência - que é a dormir que somos felizes.

Escrevo-te para que me leias sempre que quiseres e não apenas quando estás comigo...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os Eramus dos Outros

Tenho saudades do Pedro, da Diana, da Martinha, da Peko, da Jales, do e da Cácá. Dos sorrisos e dos abraços de cada um. Das conversas perdidas pelas ruas e casas em Lisboa. Das parvoíces e das resmunguices. De os encontrar na faculdade, a caminho das aulas, e decidirmos que não vamos. Das tolices na Rádio. Dos almoços e dos jantares. Das festas. De Melides com eles. Do que se pode e não se pode escrever, porque há coisas que não sei dizer.

Nunca pensei que o Eramus fosse tão longe...