Quando te percebi, só restava a caneca de leite em cima da mesa e o poema do Almada Negreiros que nunca te soube mostrar. O livro tinha ficado perdido algures entre os lençóis e a cabeceira. Enquanto as colunas gritavam uma música qualquer vestida de jazz e cultura, explicavas-me que a poesia era a principal fonte de poluição neste planeta. A poesia não é ecológica! O que se diz em trinta linhas de versos, escreve-se em menos de dez de prosa. E por se querer dizer tanto em tão pouco espaço, não se percebe nada. E bates com os dedos sobre o tampo, um de cada vez, num compasso embalado pela melodia, à espera que te respondesse. Ainda bem que estás sentado, que a vontade de te assombrar as doutrinas não é muita por estes lados. O problema não é a quantidade de papel que fica em branco, mas o desperdício de humanidade que se entranhou nas palavras que se escrevem ou ficam por escrever.
Já não há poetas.
Já não há poetas...
Já não há poetas, meu querido, pelo que os sonhos já não são senão meros recortes de existências paralelas e virtuais. A poesia entrou em coma. Em contrapartida, os poemas amontoam-se pelos jardins e edifícios do urbano, como se fossem parte daquela estrutura de acrílico e betão. Vê se me entendes, que eu não duro mais que uma vida: a poesia está a morrer com uma overdose de poemas. É que a forma não traz consigo a plenitude e o belo, e isso não se vê na caixa, que é de cartão, não é de plástico transparente...
E as instruções não vêm do lado de fora.
1 comentário:
pois..tá bem =)
cuidado com essas "contades" eheheh *
Enviar um comentário