terça-feira, 9 de setembro de 2008

No princípio era o verbo...

Já não existem palavras nesta cidade. As canetas esgotaram-nas. Por isso, não se escreve mais neste lugar. O que ainda se consegue ouvir é apenas o que sobrou dos anos em que nada se dizia. São sons amorfos, meio ocos. Lá ao fundo, alguns ecos ainda ressoam pelas paredes bafientas. Os prédios abandonados não guardam mais que corredores vazios e apagados. Aqui, falamos só por gestos. Os mais afortunados criam novos espaços com as cordas de uma qualquer guitarra perdida e achada no meio da rua. Tocam-na como se tocassem piano, como se o dedilhar tornasse cada corda numa tecla, aproximando-os daquele mundo virtual.

As palavras morreram asfixiadas pela tecnologia. Pelo menos na sua grande maioria. As poucas que conseguiram resistir aos ecrãs e aos teclados acabaram por se suicidar. Os fios e os botões desintegraram a poesia e a voz não serviu para substituir nem sequer uma linha de uma folha de papel. E isso foi o suficiente para que o tempo e o espaço desistissem de passear na escuridão. Não há poesia, não há narrativa. Não se contam histórias quando já nem os sonhos permanecem intactos.

Mas o mundo continua a girar...

4 comentários:

Anónimo disse...

pois...quando já nem os sonhos permanecem intactos...[ ]

André Godinho disse...

E ainda bem que as tuas palavras voltaram!

Serão sempre bem-vindas :)

Anónimo disse...

Há quem escreva nas horas, tipo a Rute, isso é que importa :)

Anónimo disse...

O mundo continuara sempre a girar.

And sometimes, good things fall apart so even better things can fall together!


Escreve baby, escreve. Que as tuas palarvras serao sempre benvindas no meu coracao!

Luv Ya!
Miss u.
See u soon! <3