sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo

Quando me deitei, o ano já tinha mudado. O oito transformou-se num nove e os dois zeros continuaram no meio do número. Já devia saber que a essência do tempo não passa de meros pormenores matemáticos. Não há poesia nem arte dentro de um relógio. Nos ponteiros, fica a urgência de ser eternamente jovem. E eu estou a ficar velha.

5 comentários:

Helder Gomes disse...

Estranhamente, no primeiro dia do ano, também voltei a perceber que estou a ficar velho. A culpa foi da televisão que estava a passar uma lista de 100 vídeos. Percebes que estás a ficar velho(a) quando algumas das músicas que te ajudaram a atravessar a adolescência fazem parte de um top vintage! Como "Intergalactic" dos Beastie Boys, "Hallelujah" na versão do Jeff Buckley ou "Song 2" dos Blur. Estamos tramados!

Anónimo disse...

eu só vou começar a não querer fazer anos quando chegar aos 29. até lá, deixa vir os 23 e seguintes :x dps falamos.

efemota disse...

no fundo estamos todos, e já vamos mudar de dígitos Rute...venham daí os reumáticos lol

Anónimo disse...

velhos são os trapos! tás fresca k nem uma alface! até vais pa Alemanha e td!....velho tou eu k até ja tenho pelos brancos na barba =X

Dr. Baco! disse...

Já fui mais novo do que sou hoje.

Houve tempos em que da constatação à indignação ao protesto era um instante. Houve tempos em que havia uma certeza inabalável atrás do protesto, em que cada palavra era pontuada pela óbvia evidência da consequência. Nesses tempos eu sabia que amanhã colheria o que planto hoje.

Se há divindades, se há um criador como tantos querem que haja, se outras entidades superiores existem, o maior presente que nos deixaram foi a ingenuidade. Uma vez perdida...

Hoje a meditação sucede-se à constatação. Falta-me a ingenuidade, roubaram-me a indignação. Hoje, as certezas não são tanto no protesto como o são no ideal, as palavras são pontuadas pela evidência do conceito, a consequência é outra batalha. Falta-me a ingenuidade, deram-me a retórica. Hoje não sei quando será a colheita, mas planto com outro carinho, com outra ponderação. Falta-me a ingenuidade, perdi a imortalidade do eu para ganhar a imortalidade do nós.

Espezinharam um empregado de um Wall Mart, para chegarem primeiro aos brinquedos de Natal... Há algo de profundamente macabro nas hipérboles de ontem que se tornam nas notícias de hoje.

Sei que hão-de haver dias em que irei duvidar, sei que hão-de haver dias em que parecerá não valer a pena. E nesses dias agarrar-me-ei àquela réstia de ingenuidade. E nesses dias agarrar-me-ei há ideia.

Sei que sou novo, muito novo mesmo. Mas já fui mais novo do que sou hoje.

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À conversa no tasco lá da santa terrinha está um velhote a bradar feitos e façanhas sexuais. Entre pretéritos mais ou menos perfeitos, lá se vê interrompido pela passagem de formosa e desejável gaiata. Não hesita pois, o jovem de outrora, em transportar para os tempos de hoje os de ontem:

-Se ela deixasse... Se eu pudesse... Se ela quisesse... O que eu lhe fazia...

Entre a divertida plateia, lá dispara uma voz, transportadora das evidências - "Oh velho, mas tu com essa idade consegues lá foder alguma coisa?!" - A resposta veio rápida e acutilante:

- Se consigo ou não, não sei... Mas a ideia ninguém ma tira!

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Se consigo ou não, não sei... Mas a ideia ninguém ma tira.