Sento-me hoje à beira do mesmo rio. Sim, aquele onde nos sentámos durante anos a fio, de mãos dadas, a sorrir e contar peixinhos. Mas isso foi quando o tempo corria à nossa frente, verões antes de ficares doente. Agora, o tempo rasteja à minha volta. Olho para a água e continua parada, à espera que o vento sopre.
Estou velha, meu amor. As mãos tremem-me e o cabelo branco pesa quase tanto com a idade que carrego. Gostava de respirar e conseguir sentir a frescura deste campo. Mas agora já quase nem isso consigo imaginar. Para tudo o que olho encontro uma memória de ti. Tudo o que passa por mim traz uma fotografia tua consigo, um retalho do passado que deixámos atrás de nós.